Matéria em revista de divulgação científica brasileira (“Agora é oficial: a Homeopatia não funciona”) apressou-se em repercutir de forma acrítica e de maneira indevidamente definitiva um estudo por parte do Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (NHMRC) australiano que nega a eficácia da Homeopatia em diversas doenças, com base em revisão de estudos clínicos selecionados.
Ocorre que, revisando as conclusões do Comitê e os critérios de inclusão e exclusão dos trabalhos, surgem problemas como os que seguem:
– trabalhos clínicos que apresentaram resultados em favor da Homeopatia foram rejeitados (126), devido a critérios inusitadamente restritivos;
– foram aprioristicamente excluídos quaisquer trabalhos de pesquisa básica, in vitro e em plantas ou animais e outros (334) – exatamente aqueles que tendem a mostrar mais resultados positivos devido ao desenho mais claro e objetivo e ao melhor controle de variáveis – sob o argumento de que só pesquisas clínicas seriam contempladas, diminuindo assim enormemente a possibilidade da conclusão negativa ser contestada;
– dos trabalhos considerados aptos a serem incluídos (176), a maioria desconsidera a questão da especificidade do tratamento homeopático (individualização) – em geral utilizando nosódios ou medicamentos escolhidos exclusivamente de acordo com a patologia – o que qualquer pesquisador minimamente versado no modelo científico homeopático sabe que resultará em maior negatividade dos resultados;
– as conclusões negativas de eficácia com relação a determinados tipos de patologia foram generalizados apenas a partir desse conjunto restrito de resultados e daí tomados como universalmente válidos e absolutos, o que contraria a boa prática científica.
Pela maneira estrita e direcionada como o estudo foi conduzido não se pode deixar de suspeitar que foram eliminadas quaisquer possibilidades de inclusão de evidências favoráveis à Homeopatia – de forma a não afetar a conclusão final e não deixar nenhuma dúvida quanto à infalibilidade da mesma – não esquecendo que pode estar em jogo uma possível influência nas diretrizes para a saúde pública do país citado, bem como em suas respectiva política orçamentária.
Na verdade o fenômeno da ultra-diluição (UHD – ultra-high dilutions) continua sendo a grande questão a dividir opiniões, ainda que trabalhos recentes tenham apontados evidências no sentido de sua nanoestruturação como princípio físico-químico e uma ação biológica intracelular como mecanismo de ação – céticos simplesmente se recusam sequer a admitir essas hipóteses. Não obstante, não se deve negar que:
“A pesquisa em Homeopatia tem sido um desafio para todos, seja pesquisador ou leigo. Alguns dos motivos incluem a complexa natureza das ultra-diluições, a falta de orientação correta para pesquisa, a filosofia homeopática e a literatura de pesquisa inadequada, a falta de fundos, a falta de motivação e o ceticismo.
É também verdade que podemos sobrepujar a maior parte dos problemas compartilhando nosso conhecimento, nossa experiência e nossos recursos – [este é] o ponto de partida para transformar uma idéia [pesquisa em Homeopatia] em realidade (Saurav Arora).”