Grande equívoco existe a respeito da especialidade médica Homeopatia.
Ela é confundida, pela maioria das pessoas, com a Fitoterapia, que é a utilização de plantas medicinais no tratamento de doenças e também com os florais que são medicamentos provenientes de flores.
A Homeopatia é uma especialidade médica de característica vitalista e base experimental desde a sua descoberta há mais de 200 anos. Possui um corpo doutrinário com princípios e fundamentos que diferem do modelo médico “ tradicional”, vigente, como veremos a seguir.
A Homeopatia surgiu na Alemanha em 1796, resgatada pelo médico alemão Dr. Samuel Hahnemann, 1755-1843.
Hahnemann formou-se na Alemanha em 1779 e praticou a medicina “dos contrários” até 1785. Neste ano decide abandonar a prática médica por verificar a ineficiência de sua terapêutica, já que os enfermos obtinham uma melhora temporária dos seus sintomas mas logo retornavam doentes como antes ou até piores. Hahnemann também não concordava com o pouco conhecimento que se tinha das substâncias utilizadas para tratar os doentes, assim como a sua forma de pesquisa. Tais conhecimentos eram baseados em estudos feitos em animais, o que para Hahnemann era insuficiente e inadequado se pesquisar algo em animais com a finalidade de se aplicar em humanos. Ele passou então a ocupar-se apenas de traduções de obras médicas a fim de encontrar um novo modo de conhecer as propriedades das substâncias, tratar e curar os doentes.
Foi então que, através da literatura médica da antiguidade, Hahnemann verificou que desde a Grécia antiga a medicina já reconhecia duas formas terapêuticas para abordar as doenças: uma fundamentada no princípio dos contrários, que é a base da medicina vigente, e outra no princípio dos semelhantes, que é a base da Homeopatia.
Foram longos anos de estudo, tradução e leitura até que em 1796, Hahnemann publica uma metodologia científica para a obtenção e conhecimento das propriedades farmacológicas das substâncias medicinais. Este método foi, todo ele, realizado de forma experimental e em indivíduos sadios e não em animais como era feito até aquele momento.
Hahnemann formulou, naquela época, quase um século antes, um método de pesquisa quase que idêntico ao famoso método de pesquisa experimental postulado pelo fisiologista francês Claude Bernard, conhecido como O Pai da Fisiologia Experimental e famoso pela sua obra: Introdução ao Estudo da Medicina Experimental.
Os estudos e experimentos foram realizados aplicando o princípio do semelhante já que, previamente, Hahnemann utilizou o método “ dos contrários” e já conhecia os resultados. Hahnemann observou que tratando os doentes pelo princípio do semelhante eles obtinham uma cura muito mais duradoura do que aquela obtida através do princípio dos contrários.
Com o passar do tempo Hahnemann ratificava e resgatava a esquecida terapêutica pela Lei dos semelhantes, postulada há centenas de anos por Hipócrates.
O princípio do semelhante busca tratar um indivíduo doente com uma substância ( medicamento) capaz de provocar os mesmos sintomas da doença num indivíduo sadio, na experimentação científica.
Seria assim: num indivíduo com problema de gastrite, a homeopatia irá medicá-lo com uma substância que foi capaz de causar a mesma gastrite que este indivíduo possui, na experimentação científica. Isto constitui a lei do semelhante, a base primordial, a essência da Homeopatia. Da lei dos semelhantes, por sua vez, derivam os outros 3 pressupostos fundamentais da Homeopatia: a experimentação no homem são( sadio), medicamento único e individualizado e por fim, medicamento diluído e dinamizado.
Cada medicamento homeopático provoca uma série de sintomas na experimentação clínica, que por sua vez, devem ser semelhantes aos sintomas do indivíduo que está doente para que ele restabeleça o estado de saúde.
Hahnemann, durante os experimentos, observou que cada substância experimentada não provocava somente sintomas de ordem física mas também de ordem mental, emocional e geral como sensação de frio, calor, alterações de transpiração, sono, humor e etc. Não era somente um orgão específico que a substância suscitava sintomas mas no corpo todo. Em decorrência deste fato, Hahnemann postula que é indispensável encontrar o medicamento que mais se assemelhe ao doente de forma global, contemplando todos os sintomas, os objetivos que são os de ordem física, e os subjetivos, que são de ordem geral, emocional e mental. Isto é indispensável para que o doente venha a curar o seu mal de forma plena e duradoura. É isso que chamamos de medicamento individualizado: o medicamento que será prescrito para tratar uma gastrite, será aquele que foi capaz de causar, na experimentação científica, a mesma gastrite que o doente apresenta, associado com os sintomas subjetivos que fizeram parte do quadro na experimentação.
É por isso que o médico homeopata se interessa por particularidades individuais que o médico alopata não se interessa, diferindo da anamense clássica que aborda apenas os sinais e sintomas nosológicos do orgão doente.
O outro pilar da Homeopatia é o medicamento diluído e dinamizado. Este diz respeito ao processo específico de preparação do medicamento, que consiste de diluição em escalas padronizadas juntamente com sucessivas sucções, processo que é chamado de dinamização.
No início, Hahnemann utilizava substâncias em doses ponderais, ou seja, maciças. Observou que os pacientes tinham uma agravação muito forte dos seus sintomas já que o medicamento era semelhante. Decidiu diluir os medicamentos em substância inerte, ou seja, um diluente que tem propriedade de não alterar a outra substância quando em contato, com a finalidade de amenizar as agravações. Passou a realizar os experimentos com medicamentos dinamizados e observou que isso não prejudicava a sua ação mas pelo contrário, aumentava-se o poder de cura da substância .
Verificou que quanto mais diluído era o medicamento, maior era a sua resposta curativa pois os pacientes obtinham uma melhora mais abrangente, profunda e duradoura dos seus sintomas.
A Homeopatia é uma medicina vitalista e sabemos que a medicina vitalista é uma ciência muito mais antiga que a descoberta da própria Homeopatia.
A medicina vitalista possui como base preceitual a existência de uma entidade físico-energética presente em todo ser vivente , chamada de força vital.
Segundo a medicina vitalista, a força vital é a responsável pelo equilíbrio do funcionamento de todo o nosso organismo, desde o nivel sutil, emocional, psicológico, até o nível dos tecidos e orgãos. Todo desequilíbrio que observamos nos nossos tecidos e orgãos se iniciaram ou tiveram como causa primária a alteração ou desequilíbrio desta força vital, pois é ela que, se desequilibrando, irá suscitar as alterações fisiopatológicas encontradas no nosso corpo físico. Portanto, para a medicina vitalista, o nosso corpo físico é o “ campo de efeitos” e a força vital é “campo das causas”. O medicamento dinamizado, utilizado na terapêutica homeopática, atua na nossa força vital desequilibrada.
Esta conclusão foi retirada dos exautivos e detalhados experimentos de Hahnemann que, comparando as experimentações que fez com substâncias em doses maciças primeiramente e posteriormente com as diluídas, observou que o medicamento dinamizado sucitava e curava não somente os distúrbios de ordem física mas também os de ordem geral e emocional do doente. Medicamentos em doses maciças não “tocam” a força vital do organismo mas apenas o nivel celular, tecidual, orgânico.
É por isso que dizemos, sem constrangimentos, que a Homeopatia tem o potencial de tratar o indivíduo desde a “sua raiz”, ou seja, de atingir a causa da doença no seu nível primário e não apenas suprimir os sintomas físicos, o que seria tratar somente as consequências.
Evidentemente, como toda ciência, a Homeopatia possui limitações no tratamento quando este possui indicação cirúrgica, lesões incuráveis ou quando se está diante de um orgão que já não funciona mais. Um coração que já não consegue bombear o sangue adequadamente, um pancrêas que não produz insulina, um pulmão que já não consegue realizar a oxigênação adequada do sangue constituem exemplos de alterações, na grande maioria, irreversíveis. A homeopatia não irá reverter estes estados. Ela poderá abrandar os sintomas incômodos da falta de um funcionamento adequado de um orgão mas não irá fazer este orgão voltar ao seu estado de pleno funcionamento.
Também, não se deve utilizar a Homeopatia em casos agudos com risco de morte iminente como é o caso de infarto agudo do miocárdio, edema agudo de pulmão ou um AVC . Nesses casos é prioritário manter a vida do paciente devendo-se utilizar a terapêutica que irá reveter o quadro imediatamente, que nestes casos é a terapêutica “dos contrários” que cumpre este papel.
A homeopatia trabalha com o estímulo da nossa força vital e a resposta do nosso organismo a esse estímulo demanda um certo tempo, que difere de indivíduo para indivíduo e doença para doença. Por isso, nos casos de riscos de vida, nós homeopatas não concordamos que se deva utilizar a homeopatia pois que não conseguimos prever exatamente o tempo de resposta ao estímulo do medicamento e nesses casos se faz necessário o controle do fator tempo pois a vida do paciente está em jogo.
A Homeopatia trata toda e qualquer tipo de doença, seja ela aguda ou crônica.
Para as doenças irreversíveis, ela proporciona uma melhora de sintomas gerais como dor, sensação de calor excessivo, sensação de frio, transpiração alterada, sono alterado, além de um bem estar mental e emocional, quando possíveis.
A Homeopatia preconiza o uso de um medicamento de cada vez . Este é um dos 4 pilares básicos da Homepatia. É aquele medicamento mais semelhante possível ao doente, também chamado por nós homeopatas de “medicamento de fundo”. Será dado um único medicamento mesmo que você possa estar doente de mais de uma doença. Este “ medicamento de fundo” irá tratar de todos os seus sintomas. As vezes, o médico homeopata precisa utilizar mais de um medicamento, devido a uma situação peculiar, porém isso não será o habitual. O uso de um medicamento único é conhecido como a Homeopatia Unicista, que nada mais é do que a homeopatia genuína postulada por Hahnemann.
A Homeopatia utiliza medicamentos dos 3 reinos da natureza: mineral, vegetal e animal.
Outro fato importante, a Homeopatia não é inócua. Muitos acreditam que se não fizer bem, mal também não faz. Isso não é verdade. Quando mal empregada, pode provocar alterações devendo-se evitar a auto-medicação. Por isso é muito importante que o tratamento seja acompanhado por um médico homeopata.
O tratamento homeopático possui direta relação com a duração e gravidade de doença , podendo ser breve ou mais demorado o seu tratamento.
É por tudo isso que o ato de prescrever um medicamento homeopático é muitas vezes tão complexo e requer muito estudo e observação por parte do médico.
Nossa imensa admiração e gratidão a este homem, Samuel Hahnemann, que deixou para a humanidade um recurso terapêutico de imenso valor, do qual nos enchemos de satisfação por conhecê-lo e praticá-lo no seu mais puro e legítimo fundamentos.
Referência Bibliográfica:
Pintura de 1857 de Alexandre Egorovich mostrando Dr Samuel Hahnemann (de azul escuro),
Asclépio ( vermelho) e Atenas ( azul claro e dourado). Os três observando a medicina ineficaz
e arbitrária da época.